terça-feira, 13 de março de 2012

Lost Girl — Capítulo 3


Capítulo 3 - Private Sin

"Aqueles eram olhos de alguém que cultivou a tristeza para depois distribuí-la ao mundo"


O clube Ravenwood localizado no coração do Upper East Side sediava um evento de caridade organizado por Esme Cullen, viúva de Carlisle Cullen o antigo diretor do Hospital White House. O objetivo do evento era angariar fundos para a expansão da ala de oncologia, e seus respectivos estudos. O baile que era um banquete aos olhos, contava com a presença dos ilustres membros do Comitê do hospital - diretores, e nomes renomados da medicina.
O hall de entrada era grande e majestoso, uma pintura a óleo gigantesca – o retrato de uma mulher incrivelmente bela com olhos azuis brilhantes ao lado de um homem de aspecto atarracado e cabelos grisalhos ralos, ficava sobre a escadaria em espiral. Scarlett O’Hara poderia ter descido por ela com sua saia armada, o tecido esvoaçando e não parecia nada deslocada. Lustres de cristal estavam pendurados no teto. Portas altas e cobertas por cortinas vermelhas feitas em veludo estavam abertas; a brisa trazia o aroma de rosas, que adornavam o exultante jardim do exterior da mansão no estilo vitoriano. Aos pés da escada estavam arrumados dois vasos altos de prata, com gardênias. Fazendo uma mescla interessante com os corrimões em ouro maciço.
Edward apenas tocou os lábios no líquido espumante que preenchia a taça de cristal que trazia em uma das mãos. Ele seguia até o grandioso salão de baile, a maioria dos olhares femininos acompanhou o andar cadenciado do médico.
Edward estava vestido impecavelmente, o paletó do smoking sem um amassado destacando os olhos verdes brilhantes. Não havia como ver dentro daqueles olhos, não havia reflexo. O homem era a personificação de um astro do cinema, exatamente como havia sido Carlisle. No entanto não tinha o coração inundado de amor como o pai. Infelizmente puxou o instinto pragmático de Esme.
Um leve aperto em sua mão, o fez baixar os olhos dispersos em pensamentos.
— A sua entrada deveria ser proibida — Edward abaixou o tronco para que Rosalie pudesse sussurrar em seu ouvido. — Edward Cullen, o senhor está absolutamente indecente com esse smoking. Está levando essas belas damas da sociedade ao pecado da cobiça.
Edward não riu do comentário afiado da irmã mais nova. Nada seria capaz de atenuar seu humor. Ele andava tenso e rígido a lado de Rosalie, que deslizava elegantemente na cadeira com rodas de magnésio.
— Ed... — Rose novamente buscou a atenção do irmão. O maxilar rígido, e os olhos indiferentes eram sinais óbvios de como o irmão odiava esse tipo de exposição. — Obrigado por aceitar ser meu pau essa noite. — ela passou o braço pela cintura dele, pode ver seu rosto mudar instantaneamente. Como sol aparecendo entre nuvens negras em um dia cinzento.
— Na verdade minha linda irmã. Sou quem me sinto agraciado pela sua companhia.
Rose parecia uma visão de tão linda usando um vestido marfim de organza e seda creme. O corpete era bordado com pérolas que cintilavam as luzes dos lustres. O vestido longo cobria-lhe as pernas alvas, a barra rendada acariciava os tornozelos insensíveis. As lindas sandálias prateadas presas a seus pés com fitas de cetim, um acessório inútil dada a incapacidade de suas pernas. O logo cabelo com reflexos dourados como os raios do sol num dia sufocante de verão preso em um coque frouxo. Alguns fios de seda moldavam o rosto delicado de porcelana. A pele leitosa exibia uma naturalidade impossível de se alcançar com cosméticos. As bochechas com um leve rubor, os lábios cobertos por um batom rosa delicado praticamente imperceptível. Os cílios longos acentuavam o azul límpido que ela trazia nas orbes. E mesmo assim, Rose riu com desprezo ignorando a lisonja de Edward.
— Ouço os comentários das mãos loucas para que suas filhas conquistem o solteiro mais cobiçado da cidade.
O barulho de risadas, e o tintilar das taças de cristais ecoavam nas paredes gigantes com afrescos e tetos abobados e esculpidos.
Ao adentrar o salão rico em detalhes, tonalidades e formas. O arranjo suntuoso de um piano de cauda longa ecoou sublimemente pelo ambiente que exalava ostentação de dinheiro que deveria ser revertido em recursos. Edward teve o ímpeto de rir, essa festa era o cúmulo da caridade. Grandes nomes da elite de Nova Iorque mais preocupados em ostentar seu dinheiro em luxos que enchiam as vistas de outras pessoas com inveja.
As mulheres preocupadas em encontrar um bom ângulo que propiciassem aos convidados uma bela visão de seus diamantes. Os homens esquadrinhando as conquistas de beldades de tal maneira que enojavam Edward.
Então uma ovação preencheu o espaço. E eis que surge Esme Cullen, sempre a mais estonteante entre as mulheres. Usava um vestido vermelho cintilante feito a partir de uma combinação de cetim e rendas antigas. Uma gola em leque, arrematada por uma barra de delicados botões de rosa dourados, as mangas eram justas.
Esme ergueu a mão para o pianista, seus dedos interromperam a dança com as teclas.
— Boa noite a todos, meus caros amigos que abraçaram minha causa — Esme dizia tão afetuosamente, aqueles que não lhe conheciam intimamente certamente ergueriam uma estátua ao altruísmo da mulher.
Edward odiava esse teatro.
— Muito obrigado a todos pela generosidade. Esse valor será inteiramente usado na ampliação da ala de oncologia, e especialmente na pediatria. Espero ajudar nossas crianças, cada uma significa muito para mim. E as vejo como a minha linda netinha, Angelina.
Alice caminhava em passos elegantes e uma postura de bailarina – os ombros erguidos transparecendo altivez, as costas retas. Em seus braços uma linda bebê, os cabelos negros como piche, caíam em delicados cachos macios pelos ombrinhos estreitos. Os grandes olhos azuis fixados no sorriso repleto de adoração da mãe. Esme estendeu os braços e segurou Angie, que se contorceu ao ser tirada do ninho protetor da mãe. Os olhos marejaram, e a pequenina soltou um gemido de choro.
— Portanto todas essas pequenas crianças terão o mesmo tratamento que minha Angelina — todos bateram palmas, a maioria fora conquistada pela presença daquele pequeno anjo. Esme era uma estrategista primordial. — Aproveitem a festa.
Longe dos olhares de seus convidados. Esme devolveu a criança rudemente para Alice.
— A bastardinha está cheirando cocô — Esme disse de forma repugnante.
— Minha filha não é bastarda! — Alice respondeu aninhando Angie como se pudesse escondê-la.
— Então estou equivocada... Mas, você por acaso não tem útero seco como uma fruta podre? — a garganta de Alice ardia com a vontade de gritar ofensas à mãe, e com choro preso. Esme continuou, viu na filha a chance de aliviar suas frustrações acumuladas por sua relação Edward. — Para você não sair por aí espalhando que sou uma megera. Irei te dar um conselho de mãe... Tome conta do seu marido, se esforce para satisfazê-lo se for capaz. E nunca se esqueça que você vive com uma desvantagem, minha linda filhinha... Você é uma mulher incompleta, incapaz de gerar herdeiros legítimos a Jasper.
Alice ergueu o queixo com o resto de dignidade que lhe restava.
— Jasper tem uma filha. — Alice deu um beijo na pequena Angie.
Esme ria, e era uma risada não só áspera e adstringente como também com volume suficiente para encher a sala de dar vontade de fugir.
— Não sei o que será de você, quando seu marido cansar de brincar de casinha. E realmente querer ter uma família de verdade — Esme passou ao lado de Alice, como se a própria filha não fosse mais que um enfeite na sala. E lhe lançou um último olhar malicioso. — Você tem sorte, apesar de tudo, Jasper te ama. Afinal o amor é a única justificativa para ele não ter te abandonado, tão sem graça... Como lamento ter tido mais duas filhas.
— Está insinuando que preferia que Rose e eu não tivéssemos nascido?
— Absolutamente, minha filha. Estou afirmando que não queria que vocês duas tivessem nascido. Tenho certeza de que você entende a diferença.
Esme sorriu e elegantemente foi exercer seu papel de anfitriã. Alice ficou pálida, a face descorada. Ela se escondeu na biblioteca no clube, embalando Angie que se remexia em seu colo.
— Calma, filhinha — mas, na verdade Alice tentava se acalmar, e se convencer que Esme era uma mulher amargurada. No entanto não era verdade, não haviam justificativas para a maneira que ela tratava as duas filhas.
— Alice, meu amor. Enfim te achei... — ouviu seu marido se aproximando. — Rose, ela está aqui...
Um homem alto com cabelo louro-escuro penteado para trás, o smoking vestia excepcionalmente bem seu corpo longinileo. Os olhos azuis um pouco ocultos pela sombra do ambiente. Alice fungou o nariz, segurando o choro. Não queria preocupar Jasper, que vinha sendo um marido tão paciente e amoroso. Rose por outro lado, sabia muito bem o motivo da irmã mais velha se isolar da festa.
— Aconteceu alguma coisa? — Jasper beijou os lábios da esposa, acariciando a testa de Angie que ressonava baixinho.
— Não, claro que não. Angie estava um pouco agitada.
— Então, acho melhor irmos embora. Estou cansado, você também amor. Teve um dia puxado com os preparativos da festa, e cuidando da Angie. Tenho certeza que Esme não se importaria.
Alice tinha certeza que não. Esme era outra pessoa na presença do genro, sempre o considerou um grande partido. Jasper descendia de uma linha de condes da Inglaterra.
— Tudo bem ­— Jasper pegou Angie com um braço, a cobrindo com a mantinha rosa bordada graciosamente. E com o outro enlaçou a cintura miúda da mulher.
Rose segurou na mãe de Alice.
— Amanhã conversaremos.
Alice maneou a cabeça em concordância.
— Boa noite, Rose — Jasper beijou a testa da cunhada.


Edward conversava animadamente com Hayley McCarthy, irmã de seu grande amigo Emmett McCarthy. Até que Esme surgiu, a matriarca analisava a moça com o olhar infalível de um falcão. Os lábios rígidos de desgosto; Hayley era uma professora de música em Julliard, ela era minimalista. Não se incomodava com roupas de luxo ou maquiagem. Rebeldes não se enfeitam nem se arrumam, como as mães poderiam ou gostar, ou como o padrão de Esme Cullen exigia. Ela se vestia com um tailleur de cor neutra e pouco chamativa.
— Olá querida Hayley, não se importa se roubar meu filho um momentinho, não é? Afinal tenho uma moça extraordinária que adoraria que ele conhecesse — Hayley se mostrou inabalável, não iria deixar Esme tirar vantagem de qualquer vestígio de seu amor secreto pelo grande amigo de seu irmão mais velho.
— Hayley, me desculpe, mas na verdade estou indo embora dessa festa. O que eu vejo aqui me enoja — Edward ignorou a mãe, e deu um beijo gentil nas mãos de Hayley.
A moça comprimiu os lábios segurando o riso diante da expressão enraivecida de Esme.
— Aonde pensa que está indo? — Esme vociferou na saída de Ravenwood para Edward.
— O mais longe possível desse seu circo! — Ele pegou as chaves com o manobrista, e foi embora sem lançar mais que um olhar de desprezo para a mãe.


Edward dirigia pelas ruas iluminadas de Nova Iorque, os dedos formando nós nos volantes. Tinha raiva de Esme, tinha raiva de si mesmo, e tinha mais raiva de sua vida.
Há muito tempo deixara de sentir emoções, nem mesmo quando exercia sua profissão. Era algo automático, parecia que fora programado a isso. Mesmo que desprezasse a mãe, sua vida corria dentro dos planos da megera.
Quando Edward virou uma esquina, e instintivamente olhou para o lado para a movimento da rua. Várias pessoas faziam fila para uma espécie de clube, com o letreiro piscante escrito: Private Sin. Edward riu consigo mesmo, ridicularizando aquelas pessoas que se amontoavam nas calçadas a espera de uma oportunidade para conhecer o ambiente daquele clube.
Até seus olhos se encontraram com aquela mulher.
Uma mulher parada no meio da rua fumando um cigarro, Edward teria ficado com repulsa. Odiava mulheres fumantes, era degradante. No entanto se sentiu hipnotizado por aqueles olhos. Olhos de alguém que cultivou a tristeza para depois distribuí-la ao mundo. Edward sentiu que sua própria tristeza e amargura fora refletida naqueles olhos mergulhados em chocolate marcante e inesquecível. Por um segundo recordou-se do garoto no beco, o pequeno infeliz que o assaltou.
Antes mesmo que tivesse de fato tomado uma decisão Edward estacionara o carro em frente ao lugar.
Seus olhos vagaram pela rua, a mulher tinha sumido. Mas, ele não desistiria, se infiltrou no meio da fila, iria achar aquela mulher, e fitar aqueles olhos tão melancólicos.

Continua...

--x--

N/A:

Mereço comentários?
Houve vários momentos que quase esganei Esme com minhas próprias mãos. Mas, calma respira... Ela é necessária para a história, eu pensei.
Garanto que há muitos motivos por essa natureza da mulher. Ou será que não?
E que é essa mulher que hipnotizou Edward?
Me perdoem mas os hentais começam só no próximo capítulo que promete pegar fogo... *-* E claro, que Emmett entra na área lindo e cheio de amor para dar.
Só no próximo capítulo.
Um beijão!






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