Capítulo 3 - Private Sin
"Aqueles eram olhos de alguém que cultivou a tristeza para depois distribuí-la ao mundo"
O clube Ravenwood
localizado no coração do Upper East Side sediava um evento de caridade
organizado por Esme Cullen, viúva de Carlisle Cullen o antigo diretor do
Hospital White House. O objetivo do evento era angariar fundos
para a expansão da ala de oncologia, e seus respectivos estudos. O
baile que era um banquete aos olhos, contava com a presença dos ilustres
membros do Comitê do hospital - diretores, e nomes renomados da
medicina.
O hall de entrada era grande e majestoso, uma pintura a
óleo gigantesca – o retrato de uma mulher incrivelmente bela com olhos
azuis brilhantes ao lado de um homem de aspecto atarracado e cabelos
grisalhos ralos, ficava sobre a escadaria em espiral. Scarlett O’Hara
poderia ter descido por ela com sua saia armada, o tecido esvoaçando e
não parecia nada deslocada. Lustres de cristal estavam pendurados no
teto. Portas altas e cobertas por cortinas vermelhas feitas em veludo
estavam abertas; a brisa trazia o aroma de rosas, que adornavam o
exultante jardim do exterior da mansão no estilo vitoriano. Aos pés da
escada estavam arrumados dois vasos altos de prata, com gardênias.
Fazendo uma mescla interessante com os corrimões em ouro maciço.
Edward apenas tocou os lábios no líquido espumante que preenchia a
taça de cristal que trazia em uma das mãos. Ele seguia até o grandioso
salão de baile, a maioria dos olhares femininos acompanhou o andar
cadenciado do médico.
Edward estava vestido impecavelmente, o
paletó do smoking sem um amassado destacando os olhos verdes brilhantes.
Não havia como ver dentro daqueles olhos, não havia reflexo. O homem
era a personificação de um astro do cinema, exatamente como havia sido
Carlisle. No entanto não tinha o coração inundado de amor como o pai.
Infelizmente puxou o instinto pragmático de Esme.
Um leve aperto em sua mão, o fez baixar os olhos dispersos em pensamentos.
—
A sua entrada deveria ser proibida — Edward abaixou o tronco para que
Rosalie pudesse sussurrar em seu ouvido. — Edward Cullen, o senhor está
absolutamente indecente com esse smoking. Está levando essas belas damas
da sociedade ao pecado da cobiça.
Edward não riu do comentário
afiado da irmã mais nova. Nada seria capaz de atenuar seu humor. Ele
andava tenso e rígido a lado de Rosalie, que deslizava elegantemente na
cadeira com rodas de magnésio.
— Ed... — Rose novamente buscou a
atenção do irmão. O maxilar rígido, e os olhos indiferentes eram sinais
óbvios de como o irmão odiava esse tipo de exposição. — Obrigado por
aceitar ser meu pau essa noite. — ela passou o braço pela cintura dele,
pode ver seu rosto mudar instantaneamente. Como sol aparecendo entre
nuvens negras em um dia cinzento.
— Na verdade minha linda irmã. Sou quem me sinto agraciado pela sua companhia.
Rose
parecia uma visão de tão linda usando um vestido marfim de organza e
seda creme. O corpete era bordado com pérolas que cintilavam as luzes
dos lustres. O vestido longo cobria-lhe as pernas alvas, a barra rendada
acariciava os tornozelos insensíveis. As lindas sandálias prateadas
presas a seus pés com fitas de cetim, um acessório inútil dada a
incapacidade de suas pernas. O logo cabelo com reflexos dourados como os
raios do sol num dia sufocante de verão preso em um coque frouxo.
Alguns fios de seda moldavam o rosto delicado de porcelana. A pele
leitosa exibia uma naturalidade impossível de se alcançar com
cosméticos. As bochechas com um leve rubor, os lábios cobertos por um
batom rosa delicado praticamente imperceptível. Os cílios longos
acentuavam o azul límpido que ela trazia nas orbes. E mesmo assim, Rose
riu com desprezo ignorando a lisonja de Edward.
— Ouço os comentários das mãos loucas para que suas filhas conquistem o solteiro mais cobiçado da cidade.
O
barulho de risadas, e o tintilar das taças de cristais ecoavam nas
paredes gigantes com afrescos e tetos abobados e esculpidos.
Ao
adentrar o salão rico em detalhes, tonalidades e formas. O arranjo
suntuoso de um piano de cauda longa ecoou sublimemente pelo ambiente que
exalava ostentação de dinheiro que deveria ser revertido em recursos.
Edward teve o ímpeto de rir, essa festa era o cúmulo da caridade.
Grandes nomes da elite de Nova Iorque mais preocupados em ostentar seu
dinheiro em luxos que enchiam as vistas de outras pessoas com inveja.
As
mulheres preocupadas em encontrar um bom ângulo que propiciassem aos
convidados uma bela visão de seus diamantes. Os homens esquadrinhando as
conquistas de beldades de tal maneira que enojavam Edward.
Então
uma ovação preencheu o espaço. E eis que surge Esme Cullen, sempre a
mais estonteante entre as mulheres. Usava um vestido vermelho cintilante
feito a partir de uma combinação de cetim e rendas antigas. Uma gola em
leque, arrematada por uma barra de delicados botões de rosa dourados,
as mangas eram justas.
Esme ergueu a mão para o pianista, seus dedos interromperam a dança com as teclas.
—
Boa noite a todos, meus caros amigos que abraçaram minha causa — Esme
dizia tão afetuosamente, aqueles que não lhe conheciam intimamente
certamente ergueriam uma estátua ao altruísmo da mulher.
Edward odiava esse teatro.
—
Muito obrigado a todos pela generosidade. Esse valor será inteiramente
usado na ampliação da ala de oncologia, e especialmente na pediatria.
Espero ajudar nossas crianças, cada uma significa muito para mim. E as
vejo como a minha linda netinha, Angelina.
Alice caminhava em
passos elegantes e uma postura de bailarina – os ombros erguidos
transparecendo altivez, as costas retas. Em seus braços uma linda bebê,
os cabelos negros como piche, caíam em delicados cachos macios pelos
ombrinhos estreitos. Os grandes olhos azuis fixados no sorriso repleto
de adoração da mãe. Esme estendeu os braços e segurou Angie, que se
contorceu ao ser tirada do ninho protetor da mãe. Os olhos marejaram, e a
pequenina soltou um gemido de choro.
— Portanto todas essas
pequenas crianças terão o mesmo tratamento que minha Angelina — todos
bateram palmas, a maioria fora conquistada pela presença daquele pequeno
anjo. Esme era uma estrategista primordial. — Aproveitem a festa.
Longe dos olhares de seus convidados. Esme devolveu a criança rudemente para Alice.
— A bastardinha está cheirando cocô — Esme disse de forma repugnante.
— Minha filha não é bastarda! — Alice respondeu aninhando Angie como se pudesse escondê-la.
—
Então estou equivocada... Mas, você por acaso não tem útero seco como
uma fruta podre? — a garganta de Alice ardia com a vontade de gritar
ofensas à mãe, e com choro preso. Esme continuou, viu na filha a chance
de aliviar suas frustrações acumuladas por sua relação Edward. — Para
você não sair por aí espalhando que sou uma megera. Irei te dar um
conselho de mãe... Tome conta do seu marido, se esforce para
satisfazê-lo se for capaz. E nunca se esqueça que você vive com uma
desvantagem, minha linda filhinha... Você é uma mulher incompleta,
incapaz de gerar herdeiros legítimos a Jasper.
Alice ergueu o queixo com o resto de dignidade que lhe restava.
— Jasper tem uma filha. — Alice deu um beijo na pequena Angie.
Esme
ria, e era uma risada não só áspera e adstringente como também com
volume suficiente para encher a sala de dar vontade de fugir.
—
Não sei o que será de você, quando seu marido cansar de brincar de
casinha. E realmente querer ter uma família de verdade — Esme passou ao
lado de Alice, como se a própria filha não fosse mais que um enfeite na
sala. E lhe lançou um último olhar malicioso. — Você tem sorte, apesar
de tudo, Jasper te ama. Afinal o amor é a única justificativa para ele
não ter te abandonado, tão sem graça... Como lamento ter tido mais duas
filhas.
— Está insinuando que preferia que Rose e eu não tivéssemos nascido?
— Absolutamente, minha filha. Estou afirmando que não queria que vocês duas tivessem nascido. Tenho certeza de que você entende a diferença.
Esme
sorriu e elegantemente foi exercer seu papel de anfitriã. Alice ficou
pálida, a face descorada. Ela se escondeu na biblioteca no clube,
embalando Angie que se remexia em seu colo.
— Calma, filhinha —
mas, na verdade Alice tentava se acalmar, e se convencer que Esme era
uma mulher amargurada. No entanto não era verdade, não haviam
justificativas para a maneira que ela tratava as duas filhas.
— Alice, meu amor. Enfim te achei... — ouviu seu marido se aproximando. — Rose, ela está aqui...
Um
homem alto com cabelo louro-escuro penteado para trás, o smoking vestia
excepcionalmente bem seu corpo longinileo. Os olhos azuis um pouco
ocultos pela sombra do ambiente. Alice fungou o nariz, segurando o
choro. Não queria preocupar Jasper, que vinha sendo um marido tão
paciente e amoroso. Rose por outro lado, sabia muito bem o motivo da
irmã mais velha se isolar da festa.
— Aconteceu alguma coisa? — Jasper beijou os lábios da esposa, acariciando a testa de Angie que ressonava baixinho.
— Não, claro que não. Angie estava um pouco agitada.
—
Então, acho melhor irmos embora. Estou cansado, você também amor. Teve
um dia puxado com os preparativos da festa, e cuidando da Angie. Tenho
certeza que Esme não se importaria.
Alice tinha certeza que não.
Esme era outra pessoa na presença do genro, sempre o considerou um
grande partido. Jasper descendia de uma linha de condes da Inglaterra.
—
Tudo bem — Jasper pegou Angie com um braço, a cobrindo com a mantinha
rosa bordada graciosamente. E com o outro enlaçou a cintura miúda da
mulher.
Rose segurou na mãe de Alice.
— Amanhã conversaremos.
Alice maneou a cabeça em concordância.
— Boa noite, Rose — Jasper beijou a testa da cunhada.
Edward
conversava animadamente com Hayley McCarthy, irmã de seu grande amigo
Emmett McCarthy. Até que Esme surgiu, a matriarca analisava a moça com o
olhar infalível de um falcão. Os lábios rígidos de desgosto; Hayley era
uma professora de música em Julliard, ela era minimalista. Não se
incomodava com roupas de luxo ou maquiagem. Rebeldes não se enfeitam nem
se arrumam, como as mães poderiam ou gostar, ou como o padrão de Esme
Cullen exigia. Ela se vestia com um tailleur de cor neutra e pouco
chamativa.
— Olá querida Hayley, não se importa se roubar meu
filho um momentinho, não é? Afinal tenho uma moça extraordinária que
adoraria que ele conhecesse — Hayley se mostrou inabalável, não iria
deixar Esme tirar vantagem de qualquer vestígio de seu amor secreto pelo
grande amigo de seu irmão mais velho.
— Hayley, me desculpe, mas
na verdade estou indo embora dessa festa. O que eu vejo aqui me enoja —
Edward ignorou a mãe, e deu um beijo gentil nas mãos de Hayley.
A moça comprimiu os lábios segurando o riso diante da expressão enraivecida de Esme.
— Aonde pensa que está indo? — Esme vociferou na saída de Ravenwood para Edward.
—
O mais longe possível desse seu circo! — Ele pegou as chaves com o
manobrista, e foi embora sem lançar mais que um olhar de desprezo para a
mãe.
Edward dirigia pelas ruas iluminadas de Nova Iorque,
os dedos formando nós nos volantes. Tinha raiva de Esme, tinha raiva de
si mesmo, e tinha mais raiva de sua vida.
Há muito tempo deixara
de sentir emoções, nem mesmo quando exercia sua profissão. Era algo
automático, parecia que fora programado a isso. Mesmo que desprezasse a
mãe, sua vida corria dentro dos planos da megera.
Quando Edward
virou uma esquina, e instintivamente olhou para o lado para a movimento
da rua. Várias pessoas faziam fila para uma espécie de clube, com o
letreiro piscante escrito: Private Sin. Edward riu consigo
mesmo, ridicularizando aquelas pessoas que se amontoavam nas calçadas a
espera de uma oportunidade para conhecer o ambiente daquele clube.
Até seus olhos se encontraram com aquela mulher.
Uma
mulher parada no meio da rua fumando um cigarro, Edward teria ficado
com repulsa. Odiava mulheres fumantes, era degradante. No entanto se
sentiu hipnotizado por aqueles olhos. Olhos de alguém que cultivou a
tristeza para depois distribuí-la ao mundo. Edward sentiu que sua
própria tristeza e amargura fora refletida naqueles olhos mergulhados em
chocolate marcante e inesquecível. Por um segundo recordou-se do garoto
no beco, o pequeno infeliz que o assaltou.
Antes mesmo que tivesse de fato tomado uma decisão Edward estacionara o carro em frente ao lugar.
Seus
olhos vagaram pela rua, a mulher tinha sumido. Mas, ele não desistiria,
se infiltrou no meio da fila, iria achar aquela mulher, e fitar aqueles
olhos tão melancólicos.
Continua...
--x--
N/A:
Mereço comentários?
Houve vários momentos que quase esganei Esme com minhas próprias mãos. Mas, calma respira... Ela é necessária para a história, eu pensei.
Garanto que há muitos motivos por essa natureza da mulher. Ou será que não?
E que é essa mulher que hipnotizou Edward?
Me perdoem mas os hentais começam só no próximo capítulo que promete pegar fogo... *-* E claro, que Emmett entra na área lindo e cheio de amor para dar.
Só no próximo capítulo.
Um beijão!
Houve vários momentos que quase esganei Esme com minhas próprias mãos. Mas, calma respira... Ela é necessária para a história, eu pensei.
Garanto que há muitos motivos por essa natureza da mulher. Ou será que não?
E que é essa mulher que hipnotizou Edward?
Me perdoem mas os hentais começam só no próximo capítulo que promete pegar fogo... *-* E claro, que Emmett entra na área lindo e cheio de amor para dar.
Só no próximo capítulo.
Um beijão!
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