terça-feira, 13 de março de 2012

Lost Girl — Capítulo 6


Capítulo 6 - Remember me

As estações sempre se vão e renascem de novo. Mas as memórias que elas deixam, nunca renascerão.

Quando os braços de Rose enlaçaram-no pelo pescoço, Emmett a levantou, deitando-a carinhosamente na cama. A mansão dos Cullen completamente vazia — Esme exercendo o papel de anfitriã naquele circo de bajuladores e corruptos, e Edward, provavelmente seria o último a se esperar naquele lugar de paredes frias e histórias atormentadoras.
Emmett continuava sentado na beira da cama, Rose fitou-o no escuro, cautelosa, por vários motivos.
 Ele não deu a menor indicação, limitando-se a fitá-la. Depois de um longo momento, ele sussurrou:
— Eu me rendo boa noite.
— Não quero ficar sozinha.
De repente ele viu uma fragilidade que há segundos atrás não havia ali. Com uma estranha satisfação, quase tanto quanto teria se ela o procurasse ardendo de desejo, Emmett descolou-se para o lado e levantou a coberta.
Emmett não dormiu mais que uma hora. Acordou com pequenos soluços que sacudiam a cama. Seu coração parou quando encontrou Rose chorando enquanto dormia, o sofrimento tingia suas feições.
Ele a puxou de encontro ao seu peito. Rose estava gelada — apesar de coberta por um grosso edredom — as mãos gélidas, tremiam. Lentamente acariciou com as pontas dos dedos os cabelos sedosos dela, com a outra mão enxugou as lágrimas que desciam copiosamente.
— Calma, meu amor. Estou aqui.
Rose abriu os grandes olhos azuis — que brilhavam como uma lagoa banhada pelo luar — transbordando lágrimas. Aos poucos a compreensão inundou seus sentidos.
Novamente aquele sonho. Rose despertava gritando todas as noites e era sempre o mesmo sonho. Estava no meio de um lago, numa tempestade de neve, e uma mulher forçava sua cabeça sob as águas geladas, afogando-a. Despertava em pânico, ofegando para respirar, encharcada de suor. Somente quando a respiração de Rose se normalizara, Emmett encontrou seus olhos. Tão tristes, e tão diferentes daqueles mesmos olhos azuis altivos e fortes. As lágrimas surgiram novamente. Ela balançou a a cabeça devagar e suplicou num sussurro:
— Não diga ou pergunte nada.
Emmett suspirou, porém sua determinação não esmoreceu.
— Deve ser sobre o acidente que matou seu pai, e a deixou paraplégica. — Emmett se sentou, ajeitando Rose de forma que os travesseiros a amparassem. — Pode falar.
— Já falei na primeira consulta..
Ele não se alterou. Paciente, repetiu:
— Apenas falou o aceitável, mas não o suficiente. Pode falar.
Rose não queria falar. Falava sério quando dissera uma vez a Emmett que algumas coisas provocam angústia demais para se pensar a respeito. Mas ele não ia desistir. Por isso, ela optou pelo caminho mais fácil.
— Passei oito semanas no hospital. Estive em coma durante a primeira semana. Não foi nada mau para mim, mas um pesadelo para meus irmãos. Acordei de repente e soube o que aconteceu. Foi terrível.
Emmett franziu o rosto. Não ser capaz de se mexer? , foi o que Rose imaginou que ele pensava.
— Saber que meu pai havia morrido — corrigiu ela. — Ele já fora enterrado, e todos tentaram me consolar, dizendo que eu era afortunada. Até eu ver Esme, nunca m esquecerei a forma como ela me olhou. Como se desejasse a minha morte.
— Fale-me sobre o acidente.
— Já falei a respeito.
Emmett manteve-se tão paciente quanto antes, mas igualmente obstinado.
— O que você lembra?
— Não muita coisa — ela respondeu evasiva.
— De propósito? Por que não quer se lembrar?
— E isso seria lamentável? — indagou Rose em autodefesa. — Foi uma noite horrível.
— Houve bebida?
O tom de Emmett exortava-a a acontinuar.
— Não, meu pai não bebia. Mas houve uma briga.
Ele esperou, mas Rose já havia acabado. Não queria pensar a respeito, muito menos falar. Mas ele a fitava nos olhos.
— Creio que tem um problema com confiança. — Emmett se levantou. Foi pegar o paletó do smoking. — Você e Edward são muito parecidos. Nenhum dos confia em alguém que possa saber tudo a seu respeito, e mesmo assim continuar a amá-lo.
— É um bocado de confiança. Muitas pessoas têm dificuldade para aceitar isso.
— Não estou falando de muitas pessoas, e na verdade não estou falando de seu irmão. Refiro-me a você
— O que você quer que eu diga?
Emmett deu de ombros.
— Tenho que voltar — disse ele, indo em direção a porta.
— Por favor, não vá — novamente aquela vulnerabilidade desconhecida o chamava — Eu sinto... como... como uma espectadora. Como se ficasse sentada vendo as coisas acontecerem.
Tudo em Emmett se tornou gentil, os olhos, a voz e as mãos que seguraram os lados do rosto de Rose. A expressão dela era dura, impenetrável.
— Ficou zangada comigo pelo que falei, Rose?
— Deveria. Por isso e muito mais.
— Mais o quê?
— Por aparecer na minha vida. E me fazer pensar em tudo que não posso fazer. Eu costumava sentir que poderia fazer qualquer coisa que quisesse.
— e não pode?
Em vez de responder, ela disse:
— Eu sinto medo de muitas coisas.
— Diga uma.
— Você. — embaraçada pela confissão. Rose apressou-se em acrescentar: — Minha irmã está se consultando com uma analista. Talvez eu devesse fazer a mesma coisa.
— Não precisa disso. Um bom amigo pode servir ao mesmo propósito. Às vezes é apenas uma questão de ter alguém para descarregar seus pensamentos. Um amigo pode prestar essa ajuda.
— E uma analista também.
— Um amigo é mais barato. Além do mais, você não precisa de uma analista. Tem a mim.
Ela pegou as golas da camisa branca de Emmett e soltou um suspiro.
— Você é o problema.
— Porque a amo? Isso é um absurdo, Rose.
— É por isso que preciso de uma analista.
— Uma analista ficaria sentada aqui com você até que odiasse o silêncio o suficiente para despejar seus medos.
Rose manteve-se calada enquanto voltava ao pesadelo do seu acidente. O barulho dos sapatos de Emmett soaram no quarto. Segundos depois, ele carregava nos braços uma cadeira acolchoada.
— O acidente.
Ela tornou a olhar para Emmett, e ele se deparou com uma surpreendente vulnerabilidade. E esperou, esperou até que ela não pôde mais suportar o silêncio. Demorou dois segundos, então ela trouxe as mãos de Emmett para seu colo, com a esperança que a presença dele fosse sólida perante aquela dor.
–-x—
O dia era cinzento e frio, mas tão bonito que era difícil acreditar que houvesse algum risco nas estradas. Tudo à beira da estrada era coberto por uma camada de gelo, em total imobilidade à luz dos faróis, congelado no tempo, delineado de uma forma gloriosa, realçado e emoldurado. Era um mundo cristalino, desfigurado apenas árvores caídas, gigantes abatidos por estarem no lado errado da colina. Não havia pessoas com pás removendo a neve, apenas um ou outro morador com uma picareta, olhando aturdido para o que parecia ser um mundo de gelo.
Pela chaminé de um dos chalés mais ornamentados pela decoração de natal, saía uma densa camada de fumaça. O fogo lá dentro proporcionando uma forte de calor por todos os cômodos. As janelas estavam escuras, as luzes apagadas por toda a cidade.
No segundo andar, em um quarto pintado em tons de rosa e marfim, uma garota de 12 anos, com cabelos louros e sedosos que emolduravam o rosto levemente arredondado. Ela aguardava ansiosa a chegada do pai, os braços debruçados no peitoral da janela. Mal havia visto a mãe, que se preocupava em inspecionar o trabalho de todos os empregados.
Enfim um feixe forte de luz surgiu por entre a pequena estrada que levava até o chalé. Era ele.
Rose desceu eufórica as escadas, calçando as botas, e vestindo o gorro e o cachecol para enfrentar a temperatura gélida no meio externo. Uma figura alta e forte saltava do carro, com a réstia de luz vinda da casa, Rose reconheceu as feições indescritíveis de Carlisle.
— Papai! — com passos pequenos e lentos por conta da neve espessa, ela se encaminhou até Carlisle.
Ele permaneceu em um estado de inércia. O belo rosto contraído com uma fúria que Rose pensou nunca habitar no pai, as narinas dilatadas e a respiração saindo em lufadas de fumaça branca.
— Onde está sua mãe, Rosalie?
Carslile a afastou.
— Não sei... Ela estava arrumando o quarto do Ed, ele volta amanhã da faculdade.
— Tudo bem. Agora me ouça... Arrume suas coisas, você vai voltar comigo para casa.
Rose meneou a cabeça, ainda não reconhecendo a formalidade de Carlisle.
Já no quarto novamente, Rose guardou seu diário em camurça, algumas roupas em uma mochila rosa. Os gritos vindos do quarto dos pais entraram pela fresta aberta de sua porta, a voz de seu pai irreconhecível:
— Esme, como você pôde?
— Muito simples, meu querido. Nós precisávamos do dinheiro... Suas dívidas naquele maldito cassino estavam nos atolando, logo nosso nome seria apenas um motivo de zombaria — Rose foi andando lentamente pelo corredor, parando em frente ao quarto deles. Esme deu as costas à figura rígida de Carlisle, nada nunca a abatia.
— Quando nos casamos, você prometeu nunca mais procurar aquela família. Eu te acolhi, e a criança que você esperava. Fiz de vocês minha família. Eu te dei tudo... Eu te amei...
A risada alta de Esme reverberou pelo quarto. Rose odiava aquele som desprovido de sentimentos.
— Você me amou? E quando se deitou com aquela mulherzinha? Pensou em mim quando se enfiou dentro dela, ou quando a engravidou, e trouxe aquela criança imunda que vocês tiveram para cá?!
Em um movimento tão rápido, Carlisle ergueu Esme pelos braços. Os pequenos soluços de Rose o despertaram a tempo.
— Não — ele disse, libertando Esme de seu aperto. — Não sou como você — ele trouxe o rosto de Esme lentamente em direção ao seu, o movimento imitou uma carícia. — Um assassino — disse em um sussurrou Rose nunca teve certeza de ter escutado tal palavra.
— Não machuca a mamãe! — Rose choramingou, abraçando o corpo delicado de Esme.
Para a surpresa de todos, Esme sacudiu a filha, a esbofeteando.
— Cale a boca, menina nojenta!
Rose segurou a própria face vermelha, grande lágrimas escorriam por sua pele que ardia. Carlisle jogou Esme com força para fora do quarto.
— Eu juro que você nunca mais encostará um dedo na minha filha! Você me enoja! — ele fechou a porta do quarto abruptamente na cara de Esme.
Carlisle acolheu Rose no colo, acariciando os cabelos platinados e cantando uma cantiga conhecida por ela — a mesma que cantava todas as noites.
— Aonde pensa que vai? Ainda não terminamos! — esbravejou Esme, socando a porta.
— Terminamos tudo, minha querida ex-esposa. E pode ter certeza de uma coisa, não receberá um tostão do meu valioso dinheiro que lutou para salvar! — Carlisle arrumava suas malas com agilidade.
— Vai se arrepender disso! — o único barulho eram os clec clec dos saltos de Esme no piso.
Depois de alguns minutos, Carlisle desceu as escadas no chalé aninhando Rose em seus braços. Os olhos assustados da filha; o inquietavam; jamais deveria tê-la exposto a tanto. A verdade parecia demais para uma criança tão pura como ela.
De soslaio, Rose viu Esme os encarando da janela do quarto com um sorriso vitorioso nos lábios, enquanto entravam no carro do pai.
Uma camada de gelo cobria a estrada, deixando-a traiçoeira. Mesmo assim Carlisle dirigia com atenção redobrada, uma curva se projetou, ele apertou o freio e nada mudou, a velocidade manteve-se. Os pneus deslizando pelo asfalto úmido e escorregadio, Rose despertou assim que notou o esforço do pai em controlar o carro, e tudo aconteceu rápido demais. No outro segundo a água gélida cobriu todo o carro, penetrando em seus pulmões e a sufocando. O pescoço do pai pendia em um ângulo grotesco, Rose sentiu uma dor aguda nas costas e o sangue quentes escorrendo por entre suas costelas. E desde então tudo foi escuridão...
–-x—
— Eu sinto muito, papai... — Rose ainda se esforçava em apagar todas aquelas imagens que antecederam o acidente. — Foi minha culpa! Ele queria me proteger de Esme! Eu deveria tê-lo impedido... — ele apertava os dedos na camisa de Emmett, ensopando o tecido fino.
— Você era apenas uma criança... Seu pai foi irresponsável! E sua mãe é uma megera, como ousou bater na própria filha? — a expressão de Emmett era horrorizada.
— Será que realmente sou filha dela?
Então com o rosto deitado nos ombros fortes e viris de Emmett, Rose notou a presença de uma terceira pessoa.
— Infelizmente devo dizer que é minha filha. Rosalie. Por mais que a idéia seja tão repugnante a você, talvez não mais quanto é pra mim...
O mesmo sorriso da noite do acidente salpicava nos lábios perfeitos de Esme.

Continua...

--x--

N/A:

 Finalmenteee! *dando a volta olímpica*
Nem acredito que consegui fazer esse capítulo. Ouso dizer que foi o mais difícil, foram tantos sentimentos e temores a serem trabalhados. Fiquei com muito receio de ficar uma coisa clichê... Por favor, me dêem suas opiniões sinceras. Gostaram mesmo?
Vocês pediram e eu coloquei o flash para entenderem o acidente, esse sentimento de rejeição e mágoa que a Rose carrega. Afinal como uma criança de 12 anos conseguiu viver com todos esse segredos enclausurados em seu íntimo?
Qual dos três filhos não é de fato da Esme? E o que aconteceu com a criança que Carlisle acolheu? Quem é?
Palpites... Quero palpites!
Um beijo enorme e fiquem com deus!



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