Capítulo 6 - Remember me
As estações sempre se vão e renascem de novo. Mas as memórias que elas deixam, nunca renascerão.
Quando
os braços de Rose enlaçaram-no pelo pescoço, Emmett a levantou,
deitando-a carinhosamente na cama. A mansão dos Cullen completamente
vazia — Esme exercendo o papel de anfitriã naquele circo de bajuladores e
corruptos, e Edward, provavelmente seria o último a se esperar naquele
lugar de paredes frias e histórias atormentadoras.
Emmett continuava sentado na beira da cama, Rose fitou-o no escuro, cautelosa, por vários motivos.
Ele não deu a menor indicação, limitando-se a fitá-la. Depois de um longo momento, ele sussurrou:
— Eu me rendo boa noite.
— Não quero ficar sozinha.
De
repente ele viu uma fragilidade que há segundos atrás não havia ali.
Com uma estranha satisfação, quase tanto quanto teria se ela o
procurasse ardendo de desejo, Emmett descolou-se para o lado e levantou a
coberta.
Emmett não dormiu mais que uma hora. Acordou com
pequenos soluços que sacudiam a cama. Seu coração parou quando encontrou
Rose chorando enquanto dormia, o sofrimento tingia suas feições.
Ele
a puxou de encontro ao seu peito. Rose estava gelada — apesar de
coberta por um grosso edredom — as mãos gélidas, tremiam. Lentamente
acariciou com as pontas dos dedos os cabelos sedosos dela, com a outra
mão enxugou as lágrimas que desciam copiosamente.
— Calma, meu amor. Estou aqui.
Rose
abriu os grandes olhos azuis — que brilhavam como uma lagoa banhada
pelo luar — transbordando lágrimas. Aos poucos a compreensão inundou
seus sentidos.
Novamente aquele sonho. Rose despertava gritando
todas as noites e era sempre o mesmo sonho. Estava no meio de um lago,
numa tempestade de neve, e uma mulher forçava sua cabeça sob as águas
geladas, afogando-a. Despertava em pânico, ofegando para respirar,
encharcada de suor. Somente quando a respiração de Rose se normalizara,
Emmett encontrou seus olhos. Tão tristes, e tão diferentes daqueles
mesmos olhos azuis altivos e fortes. As lágrimas surgiram novamente. Ela
balançou a a cabeça devagar e suplicou num sussurro:
— Não diga ou pergunte nada.
Emmett suspirou, porém sua determinação não esmoreceu.
—
Deve ser sobre o acidente que matou seu pai, e a deixou paraplégica. —
Emmett se sentou, ajeitando Rose de forma que os travesseiros a
amparassem. — Pode falar.
— Já falei na primeira consulta..
Ele não se alterou. Paciente, repetiu:
— Apenas falou o aceitável, mas não o suficiente. Pode falar.
Rose
não queria falar. Falava sério quando dissera uma vez a Emmett que
algumas coisas provocam angústia demais para se pensar a respeito. Mas
ele não ia desistir. Por isso, ela optou pelo caminho mais fácil.
—
Passei oito semanas no hospital. Estive em coma durante a primeira
semana. Não foi nada mau para mim, mas um pesadelo para meus irmãos.
Acordei de repente e soube o que aconteceu. Foi terrível.
Emmett franziu o rosto. Não ser capaz de se mexer? , foi o que Rose imaginou que ele pensava.
—
Saber que meu pai havia morrido — corrigiu ela. — Ele já fora
enterrado, e todos tentaram me consolar, dizendo que eu era afortunada.
Até eu ver Esme, nunca m esquecerei a forma como ela me olhou. Como se
desejasse a minha morte.
— Fale-me sobre o acidente.
— Já falei a respeito.
Emmett manteve-se tão paciente quanto antes, mas igualmente obstinado.
— O que você lembra?
— Não muita coisa — ela respondeu evasiva.
— De propósito? Por que não quer se lembrar?
— E isso seria lamentável? — indagou Rose em autodefesa. — Foi uma noite horrível.
— Houve bebida?
O tom de Emmett exortava-a a acontinuar.
— Não, meu pai não bebia. Mas houve uma briga.
Ele esperou, mas Rose já havia acabado. Não queria pensar a respeito, muito menos falar. Mas ele a fitava nos olhos.
—
Creio que tem um problema com confiança. — Emmett se levantou. Foi
pegar o paletó do smoking. — Você e Edward são muito parecidos. Nenhum
dos confia em alguém que possa saber tudo a seu respeito, e mesmo assim
continuar a amá-lo.
— É um bocado de confiança. Muitas pessoas têm dificuldade para aceitar isso.
— Não estou falando de muitas pessoas, e na verdade não estou falando de seu irmão. Refiro-me a você
— O que você quer que eu diga?
Emmett deu de ombros.
— Tenho que voltar — disse ele, indo em direção a porta.
—
Por favor, não vá — novamente aquela vulnerabilidade desconhecida o
chamava — Eu sinto... como... como uma espectadora. Como se ficasse
sentada vendo as coisas acontecerem.
Tudo em Emmett se tornou
gentil, os olhos, a voz e as mãos que seguraram os lados do rosto de
Rose. A expressão dela era dura, impenetrável.
— Ficou zangada comigo pelo que falei, Rose?
— Deveria. Por isso e muito mais.
— Mais o quê?
—
Por aparecer na minha vida. E me fazer pensar em tudo que não posso
fazer. Eu costumava sentir que poderia fazer qualquer coisa que
quisesse.
— e não pode?
Em vez de responder, ela disse:
— Eu sinto medo de muitas coisas.
— Diga uma.
—
Você. — embaraçada pela confissão. Rose apressou-se em acrescentar: —
Minha irmã está se consultando com uma analista. Talvez eu devesse fazer
a mesma coisa.
— Não precisa disso. Um bom amigo pode servir ao
mesmo propósito. Às vezes é apenas uma questão de ter alguém para
descarregar seus pensamentos. Um amigo pode prestar essa ajuda.
— E uma analista também.
— Um amigo é mais barato. Além do mais, você não precisa de uma analista. Tem a mim.
Ela pegou as golas da camisa branca de Emmett e soltou um suspiro.
— Você é o problema.
— Porque a amo? Isso é um absurdo, Rose.
— É por isso que preciso de uma analista.
— Uma analista ficaria sentada aqui com você até que odiasse o silêncio o suficiente para despejar seus medos.
Rose
manteve-se calada enquanto voltava ao pesadelo do seu acidente. O
barulho dos sapatos de Emmett soaram no quarto. Segundos depois, ele
carregava nos braços uma cadeira acolchoada.
— O acidente.
Ela
tornou a olhar para Emmett, e ele se deparou com uma surpreendente
vulnerabilidade. E esperou, esperou até que ela não pôde mais suportar o
silêncio. Demorou dois segundos, então ela trouxe as mãos de Emmett
para seu colo, com a esperança que a presença dele fosse sólida perante
aquela dor.
–-x—
O
dia era cinzento e frio, mas tão bonito que era difícil acreditar que
houvesse algum risco nas estradas. Tudo à beira da estrada era coberto
por uma camada de gelo, em total imobilidade à luz dos faróis, congelado
no tempo, delineado de uma forma gloriosa, realçado e emoldurado. Era
um mundo cristalino, desfigurado apenas árvores caídas, gigantes
abatidos por estarem no lado errado da colina. Não havia pessoas com pás
removendo a neve, apenas um ou outro morador com uma picareta, olhando
aturdido para o que parecia ser um mundo de gelo.
Pela chaminé
de um dos chalés mais ornamentados pela decoração de natal, saía uma
densa camada de fumaça. O fogo lá dentro proporcionando uma forte de
calor por todos os cômodos. As janelas estavam escuras, as luzes
apagadas por toda a cidade.
No segundo andar, em um quarto
pintado em tons de rosa e marfim, uma garota de 12 anos, com cabelos
louros e sedosos que emolduravam o rosto levemente arredondado. Ela
aguardava ansiosa a chegada do pai, os braços debruçados no peitoral da
janela. Mal havia visto a mãe, que se preocupava em inspecionar o
trabalho de todos os empregados.
Enfim um feixe forte de luz surgiu por entre a pequena estrada que levava até o chalé. Era ele.
Rose
desceu eufórica as escadas, calçando as botas, e vestindo o gorro e o
cachecol para enfrentar a temperatura gélida no meio externo. Uma figura
alta e forte saltava do carro, com a réstia de luz vinda da casa, Rose
reconheceu as feições indescritíveis de Carlisle.
— Papai! — com passos pequenos e lentos por conta da neve espessa, ela se encaminhou até Carlisle.
Ele
permaneceu em um estado de inércia. O belo rosto contraído com uma
fúria que Rose pensou nunca habitar no pai, as narinas dilatadas e a
respiração saindo em lufadas de fumaça branca.
— Onde está sua mãe, Rosalie?
Carslile a afastou.
— Não sei... Ela estava arrumando o quarto do Ed, ele volta amanhã da faculdade.
— Tudo bem. Agora me ouça... Arrume suas coisas, você vai voltar comigo para casa.
Rose meneou a cabeça, ainda não reconhecendo a formalidade de Carlisle.
Já
no quarto novamente, Rose guardou seu diário em camurça, algumas roupas
em uma mochila rosa. Os gritos vindos do quarto dos pais entraram pela
fresta aberta de sua porta, a voz de seu pai irreconhecível:
— Esme, como você pôde?
—
Muito simples, meu querido. Nós precisávamos do dinheiro... Suas
dívidas naquele maldito cassino estavam nos atolando, logo nosso nome
seria apenas um motivo de zombaria — Rose foi andando lentamente pelo
corredor, parando em frente ao quarto deles. Esme deu as costas à figura
rígida de Carlisle, nada nunca a abatia.
— Quando nos casamos,
você prometeu nunca mais procurar aquela família. Eu te acolhi, e a
criança que você esperava. Fiz de vocês minha família. Eu te dei tudo...
Eu te amei...
A risada alta de Esme reverberou pelo quarto. Rose odiava aquele som desprovido de sentimentos.
—
Você me amou? E quando se deitou com aquela mulherzinha? Pensou em mim
quando se enfiou dentro dela, ou quando a engravidou, e trouxe aquela
criança imunda que vocês tiveram para cá?!
Em um movimento tão rápido, Carlisle ergueu Esme pelos braços. Os pequenos soluços de Rose o despertaram a tempo.
—
Não — ele disse, libertando Esme de seu aperto. — Não sou como você —
ele trouxe o rosto de Esme lentamente em direção ao seu, o movimento
imitou uma carícia. — Um assassino — disse em um sussurrou Rose nunca
teve certeza de ter escutado tal palavra.
— Não machuca a mamãe! — Rose choramingou, abraçando o corpo delicado de Esme.
Para a surpresa de todos, Esme sacudiu a filha, a esbofeteando.
— Cale a boca, menina nojenta!
Rose
segurou a própria face vermelha, grande lágrimas escorriam por sua pele
que ardia. Carlisle jogou Esme com força para fora do quarto.
—
Eu juro que você nunca mais encostará um dedo na minha filha! Você me
enoja! — ele fechou a porta do quarto abruptamente na cara de Esme.
Carlisle
acolheu Rose no colo, acariciando os cabelos platinados e cantando uma
cantiga conhecida por ela — a mesma que cantava todas as noites.
— Aonde pensa que vai? Ainda não terminamos! — esbravejou Esme, socando a porta.
—
Terminamos tudo, minha querida ex-esposa. E pode ter certeza de uma
coisa, não receberá um tostão do meu valioso dinheiro que lutou para
salvar! — Carlisle arrumava suas malas com agilidade.
— Vai se arrepender disso! — o único barulho eram os clec clec dos saltos de Esme no piso.
Depois
de alguns minutos, Carlisle desceu as escadas no chalé aninhando Rose
em seus braços. Os olhos assustados da filha; o inquietavam; jamais
deveria tê-la exposto a tanto. A verdade parecia demais para uma criança
tão pura como ela.
De soslaio, Rose viu Esme os encarando da
janela do quarto com um sorriso vitorioso nos lábios, enquanto entravam
no carro do pai.
Uma camada de gelo cobria a estrada, deixando-a
traiçoeira. Mesmo assim Carlisle dirigia com atenção redobrada, uma
curva se projetou, ele apertou o freio e nada mudou, a velocidade
manteve-se. Os pneus deslizando pelo asfalto úmido e escorregadio, Rose
despertou assim que notou o esforço do pai em controlar o carro, e tudo
aconteceu rápido demais. No outro segundo a água gélida cobriu todo o
carro, penetrando em seus pulmões e a sufocando. O pescoço do pai pendia
em um ângulo grotesco, Rose sentiu uma dor aguda nas costas e o sangue
quentes escorrendo por entre suas costelas. E desde então tudo foi
escuridão...
–-x—
— Eu sinto muito, papai... — Rose ainda se esforçava em apagar todas aquelas imagens que antecederam o acidente. —
Foi minha culpa! Ele queria me proteger de Esme! Eu deveria tê-lo
impedido... — ele apertava os dedos na camisa de Emmett, ensopando o
tecido fino.
— Você era apenas uma criança... Seu pai foi
irresponsável! E sua mãe é uma megera, como ousou bater na própria
filha? — a expressão de Emmett era horrorizada.
— Será que realmente sou filha dela?
Então com o rosto deitado nos ombros fortes e viris de Emmett, Rose notou a presença de uma terceira pessoa.
—
Infelizmente devo dizer que é minha filha. Rosalie. Por mais que a
idéia seja tão repugnante a você, talvez não mais quanto é pra mim...
O mesmo sorriso da noite do acidente salpicava nos lábios perfeitos de Esme.
Continua...
--x--
N/A:
Finalmenteee! *dando a volta olímpica*
Nem acredito que consegui fazer esse capítulo. Ouso dizer que foi o mais difícil, foram tantos sentimentos e temores a serem trabalhados. Fiquei com muito receio de ficar uma coisa clichê... Por favor, me dêem suas opiniões sinceras. Gostaram mesmo?
Vocês pediram e eu coloquei o flash para entenderem o acidente, esse sentimento de rejeição e mágoa que a Rose carrega. Afinal como uma criança de 12 anos conseguiu viver com todos esse segredos enclausurados em seu íntimo?
Qual dos três filhos não é de fato da Esme? E o que aconteceu com a criança que Carlisle acolheu? Quem é?
Palpites... Quero palpites!
Um beijo enorme e fiquem com deus!
Nem acredito que consegui fazer esse capítulo. Ouso dizer que foi o mais difícil, foram tantos sentimentos e temores a serem trabalhados. Fiquei com muito receio de ficar uma coisa clichê... Por favor, me dêem suas opiniões sinceras. Gostaram mesmo?
Vocês pediram e eu coloquei o flash para entenderem o acidente, esse sentimento de rejeição e mágoa que a Rose carrega. Afinal como uma criança de 12 anos conseguiu viver com todos esse segredos enclausurados em seu íntimo?
Qual dos três filhos não é de fato da Esme? E o que aconteceu com a criança que Carlisle acolheu? Quem é?
Palpites... Quero palpites!
Um beijo enorme e fiquem com deus!
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