terça-feira, 13 de março de 2012

Lost Girl — Capítulo 2


Capítulo 2 – Fuckin little thing

O dia nunca está bom até você ser assaltado por uma criatura com metade do seu tamanho

Edward dormiu mal. O corpo estava todo dolorido, a região lombar recostada em almofadas – almofadas finas –, que não podiam se comparar com uma cama. Com um suspiro ergueu-se do pequeno sofá ao lado da janela no quarto de sua irmã mais nova, Rosalie.
Ao levantar movimentou com a devida cautela os músculos e articulações rígidos, até que ouviu os mesmos estalando.
O quarto dela tinha um charme feminino pintado em cores neutras; o papel de parede com pequenas margaridas, as cortinas marfim. Ele não tinha dúvidas que o quarto transpirava em cada mínimo detalhe a personalidade doce e contida da irmã mais nova. Abriu as cortinas para a grande selva de concreto. As nuvens começaram a se dissipar enquanto ele as olhava, abrindo espaço para as camadas de luz.
Enfim um movimento na cama chamou sua atenção, Rosalie Cullen estava acordada há algum tempo deitada de lado. Os travesseiros amparando-a com todo o conforto.
– Acordada? – Edward sentou-se ao lado da linda moça deitada na cama.
A mente dela pairava a quilômetros de distância, num mundo de utopia, em que se podia recomeçar. E nesse lugar ela não estaria deitada imóvel. E também, em seu lugar de sonho não haveria uma cadeira de rodas ao lado da cama. As pernas de Rosalie não funcionavam, desde um acidente de carro na véspera do natal, havia sete anos. Durante esse período ela aprendera tudo o que havia saber sobre a vida como uma paraplégica. E a lição mais importante era a de que não podia voltar no tempo. Só poderia levar uma vida satisfatória se as aceitasse.
– Rose – Edward tocou gentilmente a mão de Rose, o gesto tinha tanta adoração que a comoveu.
– Desculpe-me, acho que me perdi de novo naquele lugar mágico – ela riu suavemente. Pequenas ruguinhas adoráveis se formando ao redor dos olhos azuis como água mansa de um riacho.
Apreensivo ele escondeu a preocupação, não era bom para a irmã que alimentasse um mundo irreal. A cura encontrava-se na medicina especialmente na fisioterapia – que ela negava a se submeter. Rose deslizou a mão pelo o rosto mais velho. Eles tinham 10 anos de diferença. Edward com 29 anos, e ela com apenas 19 anos, ao qual sua existência fora condenada atravessar a juventude restringia a uma cadeira de rodas. Os dedos finos contornaram as grandes bolsas escuras abaixo dos olhos verdes, estava exausto. Os cabelos brilhantes bagunçados, a barba com alguns pêlos arruivados crescendo pelo queixo.
– Passou toda a noite aqui – pelo conto dos olhos ela viu a pequena improvisação de cama que ele fez, as almofadas espalhadas pela poltrona. – Por que não ficou em seu quarto?
Antes mesmo que ele respondesse, Rose estava ciente do motivo e a resposta... Ela própria.
– Simplesmente porque quis ficar ao seu lado essa noite, estava muito agitada quando me ligou. E afinal quanto tempo que não dormia aqui?
– Tempo suficiente para que a poderosa Esme agradecesse aos céus pela filha paralítica, que trouxe o primogênito para debaixo de suas asas.
Ela virou o rosto para a janela, encerrando a conversa. Edward não podia deixar que isso acontecesse.
– Você é especial, não digo pela sua deficiência, mas porque é a pessoa mais compreensiva e gentil que conheço.
Os lábios róseos de Rose se ergueram, dando lugar a uma fileira de dentes brancos e perfeitos. Ali estava sua recompensa. Aquele sorriso valia por todas as horas insones. Rosalie tinha traços renascentistas, um pescoço alvo comprido e gracioso, o rosto de proporções delicadas, a pele viçosa e a tez levemente rosada. Os cabelos louros com lindos cachos espalhados pelos travesseiros brilhavam com a luz faiscante do sol.
– Você também é uma pessoa compreensiva – Edward levantou a grossa sobrancelha num gesto irônico. – Eu sei que lá no fundinho, isso é verdade...
Ele era um excelente médico, eleito consecutivamente por três anos por uma revista conceituada como o melhor neurologista. No que dizia a área profissional, ele era brilhante, atencioso, preocupado não só em salvar a vida de seus pacientes, mas garantir que ela perdurasse. No quesito pessoal, era um homem frio, educado com as pessoas, mas sem se aproximar ou deixar que elas se aproximassem.
Ela fitava muda o irmão alongando suas pernas. Os exercícios eram necessários para que a musculatura não se atrofiasse, e enrijecessem. Ele dobrava os joelhos, os deixando flexionados por alguns minutos e depois repetia o processo com a outra perna – com os pés também. Rosalie normalmente odiava essa série de exercícios feitos pela enfermeira, Jane. Mas com Edward era diferente, tinha muito carinho e cuidado.
– Acho que vou marcar uma consulta com meu amigo. Você precisa intensificar os exercícios.
Rosalie riu.
– Boa tentativa, mas não – Edward lançou um olhar nervoso, os lábios prontos para um sermão médico. – Eu sei que com a fisioterapia eu poderia andar.
– Rose, sua lesão é incompleta. Sua situação não é tão ruim como a maioria dos paraplégicos, seus músculos abdominais funcionam.
– Eu sei que sim. Mas, não quero ter que andar de andador, com muletas o que seja. Não seria nem um pouco gracioso e muito menos prático. É a mesma coisa que colocar um aquário na frente de um alguém sedento. Ficar olhando a água pelo vidro e não poder saciar sua sede. Nunca mais poderei andar como antes...
Edward sabia que a irmã não estaria livre da vaidade humana.
– Meu querido – uma linda voz soou atrás de Edward. Um engano para quem não conhecia a natureza por trás desse arranjo suntuoso.
Esme estava parada na porta do quarto de Rosalie, com um vestido tubinho justo ao corpo. Era o tipo de quarentona que causaria inveja a qualquer jovem de vinte anos. Edward puxara o tom dos cabelos da mãe, um curioso castanho que muitas vezes se confundia com ruivo. Exibia uma postura régia, destacada pelos sapatos altos.
– Mãe – Edward maneou a cabeça, absorto em ajeitar a irmã na cadeira.
Esme comprimiu os lábios cobertos por uma camada de batom, ela não disfarçava sua adoração pelo primogênito.
– Eu esperava uma recepção mais calorosa, já que chegou em casa no meio da noite. Sem ao menos dar boa noite a sua mãe que estava no quarto ao lado, e quantas semanas que não vinha me ver, filho?
– Um mês e meio – Edward respondeu secamente. – Eu contei, afinal você me liga cada dia para me lembrar disso. – Rose segurou o riso.
– Me desculpe por sentir falta do meu filho. Essa casa virou um mausoléu sem sua presença...
– Sem drama. Você não está sozinha... Tem a Rose, e a Alice que sempre te visita e traz a Angie.
– A bastardinha...
– Mãe! – Rose repreendeu a mãe.
Alice e Jasper haviam adotado Angelina, uma linda bebê com pouco mais de um aninho. Alice era estéril, um fato que a Esme fazia questão de lembrar a toda hora e instante. Esme não suportava que a criança corrompesse o legado dos Cullen com seu sangue impuro.
– É verdade, por mais que essa menina seja criada nos devidos padrões, melhores escolas, ainda sim não é meu sangue que corre nas veias dessa – Esme pensou melhor antes de dizer: – ‘criança’.
– O quanto eu queria que seu sangue não corresse em minhas veias – Edward respondeu, odiava o preconceito da mãe. – É por essa razão que distanciei de você... Esme – ele não lançou mais que um olhar a mãe, com receio que se contagiasse com a soberba da mulher. Deu um beijo na testa da irmã, e saiu do quarto.
Esme não se deixou abalar, isso só provava que Edward era um verdadeiro Cullen. Dono de uma natureza indomável, sentiu mais orgulho que nunca do filho preferido. Ela ajeitou o vestido no corpo, alisando dobras inexistentes. E por fim disse:
– Meu bom humor se foi por hoje, portanto não quero ver você andando pela casa, Rosalie – completando acidamente. – Me desculpa filha, você não pode andar mesmo, não é? – e deu uma gargalhada, um som desprovido de humor.
Rose segurou as lágrimas, por mais que não quisesse admitir a rejeição da mãe lhe causava uma dor indescritível.


==

Edward decidiu caminhar um pouco para arejar a mente. Ficar naquela casa, lhe trazia lembranças ora agradáveis na companhia de Carlisle – seu falecido pai – e ora repugnantes com quando se lembrava da mãe que os céus lhe presentearam. Enquanto andava pela tumultuada Nova Iorque, os carros engarrafando a cidade – o som dos motores a trilha sonora que regia a vida desses operários, o monóxido de carbono vindo dos escapamentos era um estimulante para os sonhos de tantos.
Os pensamentos de Edward predominados pelas lembranças do pai, Carlisle Cullen era bondoso e gentil, antiquado com aspectos positivos. Acreditava em cozinhar para a família em um almoço de domingo. Quando imaginava o pai, podia sentir o sol quente. Quando imaginava Esme, farejava tensão. Pairava opressiva sobre suas lembranças.
Ele estendeu a mão para o paletó, o celular vibrava. Não podia se dar o luxo de sumir, seus pacientes dependiam dele. No visor do celular identificou o número do hospital público, ele era médico voluntário. O Hospital White House era um lugar carente, com poucos recursos – na verdade inexistentes – e mão de obra escassa, nenhum médico quer dedicar suas horas num lugar pobre, sem qualquer chance de reconhecimento. Edward ao contrário adorava aquele lugar, sentia o calor das pessoas. Os pacientes realmente viam a cura como um milagre nas mãos dos médicos. Diferente do Hospital Gloria Hall, aonde ele era diretor da ala neurológica. Os pacientes eram pessoas ilustres, políticos, jogadores e artistas que acreditavam que a cura era proveniente do dinheiro que investiam, e o do seu poder aquisitivo.
– Doutor Cullen
– Fale Pipper – Pipper era a diretora do hospital, uma senhora de meia idade, havia sido uma grande enfermeira.
– Provavelmente deve estar ocupado no GH – Gloria Hall – mas, achei que gostaria de saber que a garotinha que chegou ontem com DAOP¹.
– Sim, a pequena Nicole. Ela passou por uma angioplastia em que eu introduzi o stencil. Teve piora do quadro? – Edward lembrava da mãe histérica quando ele a diagnosticou. Era um caso delicado.
– Impossível, ela foi operada por um dos melhores cirurgiões...
Antes que ela terminasse, ele a interrompeu.
– Neurologista, não sou cardiologista. Mas, como ela está?
– Muito bem. Ela acordou essa manhã, os sinais vitais estão estáveis, consciente e muito feliz. Parabéns doutor Cullen.
– Obrigado, Pipper – Uma movimentação estranha em um pequeno beco chamou sua atenção: dois caras pareciam coagir um pequeno garoto de boné. – Preciso desligar, mais tarde estarei aí...
– Hoje não é seu plantão.
– Não importa – então ele desligou antes que Pipper continuasse.
Edward observou atentamente, ao mínimo sinal de perigo, iria agir. O garoto virou o rosto, encontrando seu olhar. Apesar do boné que escondia boa parte de suas feições, Edward se sentiu impelido a agir no momento em que fitou aqueles olhos castanhos. Era olhos de alguém perdido.
Os garotos agiram, um deles golpeando o pequeno garoto. Ele cedeu ao golpe caindo bruscamente na rua úmida, o rosto caído no chão de concreto áspero.
– Seus delinqüentes! O que estão fazendo? – ele se pôs a correr na direção dos moleques que saíram em disparada. Eles foram mais ágeis, sumindo de vista pelas ruas.
Ele estava tão acostumado com odores desagraveis por conta da profissão, que seu nariz estava anestesiado contra o cheiro do beco. Ajoelhou-se ao lado do corpo minúsculo, instintivamente puxou o corpo para seu colo. Analisou a agressão, a parte do rosto atingido estava começando a inchar.
– Garoto... – disse ele devagar. – Você está bem?
Como imaginava a sombra da aba do boné lhe cobria as feições, mas tinha um rosto andrógeno. Um nariz delicado e miúdo, o formato do rosto se assemelhava um coração. Aquela criança reincidia a morangos silvestres, o aroma lhe recordou da infância.
– Fui tão descuidado – o pequeno garoto resmungou. – Esses dois garotos me arrastaram até aqui, e depois roubaram minhas compras. Eu resisti, e eles me bateram. Bateram. Minha mãe vai ficar uma fera.
Ele parecia confuso pelo golpe.
– Calma, menino... Eu pago outras compras para você. Quanto foi? – preocupado com as necessidades da família do menino, ele tirou sua carteira do paletó.
Foi então que viu o menino levantando o punho, era uma armadilha. Edward se protegeu com o antebraço, e flagrou um pequeno sorriso travesso. O moleque esperava essa reação, dando um chute na virilha de Edward.
O médico caiu uivando de dor, fulminando de raiva por ter sido enganado.
– Seu marginal! – Edward gritou, automaticamente segurando suas partes íntimas. O moleque lançou um olhar de divertimento.
– Desculpa... Você supera, provavelmente não vai pintar com seu instrumento hoje. Isso que dá prestar ajuda a estranhos, estamos em Nova Iorque, otário. Valeu! – Edward ficou atônico, era a voz de uma garota. Um tom delicado como as feições escondidas por trás daquele boné velho.
Depois de estar recuperado, ele levantou-se apoiando na parede de tijolos. Com certeza era um presságio, Esme devia tê-la amaldiçoado. Por pior que tenha sido, a voz daquele menino/menina não lhe saiu da mente, e aqueles olhos castanhos lhe causariam boas noites insones.

Continua...

--x--

Essa é versão do dia do Edward. Esme é dumal, rogou uma praga no próprio filho. Sempre tive vontade em fazer uma Esme comletamente diferente daquela criatura dócil da Saga. E então preparem-se, esse foi apenas um deguste de suas maldades.
Rose é outra que sofreu uma profunda mudança. Nunca imaginaram uma relação dessa com Edward. Mas os dois são muito ligados, e Rose é muito fragilizada, porém aos poucos ela vai mostrando uma força inspiradora.
E claro como Edward se comoveu com o pequeno marginal uasuhsuhauhsuahs É aqui que começa tudo, proóximo capítulo é HOT HOT HOT!
Comentem bastante.
Um beijo enorme!


Nenhum comentário:

Postar um comentário